Desde que passei a usar os aplicativos de transporte com frequência, há cerca de três anos, eu desenvolvi uma série de comportamentos com o intuito de manter uma relação saudável e sustentável com o serviço e seus profissionais.
Sou uma pessoa atenta às relações humanas e por isso, a utilização frequente dos aplicativos tem sido um rico aprendizado, pois, além das longas conversas sobre a vida, política, esporte, dores, alegrias, aprendi a desenvolver comportamentos novos ao meu cotidiano.
Os aplicativos começam nos trazendo uma nova relação de trabalho, a começar que o profissional é autônomo, porém ele tem "algo" que controla a relação com seus clientes em troca de uma porcentagem do seu trabalho, porém, embora você tenha de cumprir uma série de exigências, ele não é seu patrão, e tenha sobre o seu trabalho um controle que nenhum patrão algum dia teve.
Outra característica do serviço de aplicativos, é que ele é predominantemente exercido por pessoas que, a princípio, não tinham esse trabalho com o objetivo de vida, então encontramos profissionais de todas as áreas que viram neste serviço uma forma de driblar o desemprego e os baixos salários ou ampliar sua renda. É muito comum, por exemplo, encontrarmos pessoas aposentadas, que trabalham com aplicativo para complementar a renda, ou simplesmente para se manterem ativas.
Muitos de nós conhecemos alguém, ou temos um familiar que está exercendo essa profissão. Porém, não é para falar sobre a profissão em si que escrevi essa publicação, mas para refletir sobre o tratamento que a eles é dado, para falar de como interagimos com os profissionais que nos prestam esse serviço.
A intenção não é determinar “regras”, mas apenas promover uma reflexão a respeito, pois, com frequência presencio situações que poderiam ser melhor encaminhadas, por isso, vou compartilhar como eu ajo, e porque faço isso, e você tira suas próprias conclusões.
Só chamo o aplicativo quando estou pronto
Só chamo o aplicativo quando estou pronto e no local onde marquei para ele buscar. Nos serviços de aplicativo o tempo de espera é variável, que pode ir de dois minutos a um pouco mais de dez minutos, porém, dificilmente é algo em torno de 30 minutos como acontecia no passado quando chamávamos um táxi pelo telefone.
Eu faço isso para não deixar o motorista esperando, pois para ele os minutos de espera, além de o colocarem em risco de assaltos, pesam no somatório final de um dia de trabalho. Três “inofensivos” minutos de espera multiplicados por 30 somam 1h30min em um dia de trabalho, e esse tempo convertido em viagens pode render quase cem reais a mais no final do dia. Por este motivo, quando estou em uma festa, por exemplo, me despeço de todos antes, para só depois chamar o aplicativo. Acho desrespeitoso as pessoas começarem a se despedirem, ou resolverem ir ao banheiro apenas quando o aplicativo chega. Se estou em um prédio ou local distante, eu já desço e fico aguardando na portaria.
Não marco lugares onde não seja permitido estacionar
Outro cuidado que tenho é de me posicionar em locais que sejam permitidos parar ou estacionar. Se no local existir aquela placa com um X em cima da letra E, significa que ali ele será multado se parar, mesmo que “um minutinho”, portanto sempre busco um lugar que a parada seja permitida e que ele não precise, por exemplo, parar em fila dupla, como acontece muito em avenidas movimentadas. Atualmente a multa para isso é de R$ 195,00 e eu não acho correto obrigar um profissional a infringir a lei e ser punido por isso, para me atender ou porque não tive o cuidado de buscar um lugar adequado.
Não obrigo a fazerem voltas desnecessárias
Sempre procuro acompanhar o percurso pelo GPS e vejo qual itinerário será necessário para ele chegar ao ponto de embarque, algumas vezes vem de um lado que obrigará a fazer uma volta, e se eu atravessar a rua, por exemplo, evito que precise fazer. Por isso não me importo em fazer um deslocamento, mando uma mensagem dizendo que estou me deslocando, ou simplesmente sinalizo quando ele se aproxima.
Considero que o valor cobrado pelo serviço é muito baixo, em corridas de menos de R$ 10,00 com muita sorte sobram R$ 4,00 para o motorista, tirando a parte do aplicativo e os custo com combustível, veículo, manutenção e etc. Acho muito injusto fazer ele “queimar” parte do seu lucro porque não me desloquei poucos metros.
Lembra o cálculo do tempo? Imagina em gasolina, 100 ml a menos de combustível gasto em deslocamento por viagem? uns três litros por dia multiplicados por uns 25 dias de trabalho podem render um bom valor para o motorista no final do mês.
Dou gorjeta, elogio e escrevo mensagens
Na hora de avaliar, dificilmente dou nota abaixo de cinco, a não ser que o motorista cometa alguns dos atos que considero graves, como ser desrespeitoso ou dirigir de forma a colocar nossa vida em risco. Para o veículo sujo eu sempre converso para ver o perfil do motorista, pergunto sua cidade, se ele costuma aceitar todas as corridas. Isso interfere nas condições do veículo, pois motoristas que atendem Alvorada e Viamão, por exemplo, geralmente enfrentam ruas em condições bem precárias, tanto que alguns motoristas não atendem certas regiões por causa disso, porém, se eu “punir” aquele que atende, e por isso tem um carro mais “detonado”, acabo tirando de circulação o atendimento das pessoas que moram nestes lugares.
Em aplicativos como o 99, há opções de elogios como carro incrível, bom motorista e etc. eu "recompenso" o motorista que me atende bem e oferece um serviço diferenciado, marcando esses elogios, colocando uma mensagem e dando uma gorjeta. Muitas vezes dois reais ou mais de gorjeta é uma forma de incentivar aquele que demonstrou bom atendimento, e voltando na lógica anterior, quanto isso pode repercutir na sua renda mensal?
Você deve estar se perguntando porque escrevi isso. Muito provavelmente algumas pessoas que vão ler essa publicação não me conhecem e, portanto, podem imaginar que tenho um parente muito próximo, ou eu mesmo trabalho com aplicativo, mas não é nada disso. Sou apenas um usuário, porém um indivíduo empático, que procura tratar bem todos com quem interajo, e principalmente fazer minha parte para um mundo melhor à minha volta.
Às vezes as pessoas me relatam problemas com os motoristas, porém eu sempre respondo que tive poucas experiências ruins, quase nem lembro de nenhuma, e muitas experiências boas, conversas incríveis e muito aprendizado, será que isso não se deve ao meu trato com eles? Será que o tratamento, algumas vezes, não diz mais respeito ao passageiro do que ao motorista? Vejo muitos pais e mães de família (Já peguei muitas mulheres dirigindo, e penso na coragem delas em enfrentar horas de trabalho em um ambiente vulnerável, incerto e por vezes hostil às mulheres) conduzindo veículos de aplicativos, pessoas como eu, pessoas que lutam atrás de um volante, por cerca de 12 horas de trabalho diário, para levar sustento a sua família.
Porque essas pessoas não mereceriam todo o meu respeito e consideração?
Enquanto escrevia essa publicação eu pensava o quanto alguns poucos comportamentos podem fazer a diferença na vida das pessoas. Acha que essa publicação é útil e que pode ajudar de alguma forma? Curta, comente e compartilhe!
Achei muito interessante a tua postura e seria bom se muitos agissem desta forma. Eu, particularmente procuro fazer isso também e poucas vezes tive problemas com motoristas exceto em pouquíssimas situações, pois tem alguns que realmente nem sei porque ainda não foram banidos das plataformas.
Muito interessante, Serginho. Me acrescentou muito teu texto, principalmente pensando na questão da limpeza e condições do veículo e atentar para não chamar em locais onde não possa parar, o que nunca tinha me ocorrido pensar.
Com certeza nossa atitude como passageiros pode diminuir muitos conflitos e estimular a saúde desta relação de prestação de serviço. Abraço forte!