Existem coisas na vida que temos muito orgulho de contar, coisas que nos fazem sentir especiais. Ter conhecido e acompanhado Leonel Brizola como fotógrafo, por alguns anos, é uma destas honras da qual não tenho palavras para expressar em toda a sua magnitude. Brizola foi um político incomum, diferenciado, fora de série. Hoje, com certeza, ocupa um lugar no Olimpo dos Deuses da política.
É impressionante como o Brizola está em minha Vida. Foi a pessoa que mais fotografei. Em minha casa armazeno um gigantesco arquivo de fotos suas. Estive em tantos lugares o acompanhando e presenciei inúmeros encontros dele com pessoas, tanto anônimas como conhecidas. Participei de momentos da política gaúcha e ouvi Brizola discursar por um incontável número de vezes que não poderia ser outra coisa senão um Brizolista.
Fiz política grande parte da minha Vida e teve uma época que pensei que sabia fazer isso, e mais, achava que fazia bem. Em 2000 acompanhei um grupo de militantes que deixou o PDT por discordar dos rumos que o partido tomava e principalmente por não ver que através do PDT pudéssemos fazer as transformações que sempre sonhamos. Foi uma decisão muito difícil que doeu em todos nós Brizolistas.
É preciso registrar, que ser um militante político não é uma forma de ganhar a vida fácil, muito pelo contrário, exige renúncia e muita dedicação. Pelo menos era assim.
Nunca fiz política por dinheiro, e embora as pessoas possam considerar ridículo, do alto dos meus 42 anos, declaro que sempre acreditei que podia “mudar o mundo” e por um tempo achei que a militância política era o melhor lugar para as pessoas que pensavam como eu estarem. Em 2000 deixei de acreditar nisso, e me desfiliei do PDT, de Leonel Brizola, a quem sempre admirei e respeitei, acompanhando um grupo de militantes com quem tinha afinidade ideológica. Entre estes militantes estava a atual presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, além de Sereno Chaise, Marcos Klasmann, Milton Zuanazzi, e muitas outras figuras importantes do PDT. Todos esses militantes ingressaram no PT e eu resolvi tomar outros rumos na minha Vida, fui levar minha crença e minhas verdades para onde achava que seria mais útil.
Quem me conhece sabe que sou um “guevarista” e que acredito que “quem não vive para servir, não serve para viver” e embora a frase pareça radical e um tanto forte, é assim que sou e por este motivo deixei de acreditar nos políticos que, de um modo geral, com raras exceções, estão aí mais para se servir do que para servir.
Nos últimos quase 10 anos, me dediquei ao Terceiro Setor, exercendo com toda a minha dedicação, amor e crença em um mundo melhor, a função de Diretor Executivo da Fundação Thiago de Moraes Gonzaga, e pensei que nunca mais iria participar da política. Sempre achei um retrocesso me envolver com política novamente, pois estava sendo muito mais útil a sociedade me dedicando a Fundação, e a política era coisa do passado.
Mas não temos como prever o futuro, e após deixar minhas funções na Fundação e me conceder um período sabático, participei da campanha de minha querida amiga Juliana Brizola em busca de uma cadeira na Assembléia Legislativa, conquistada com uma expressiva votação. Após relutar muito aceitei o convite para assessorá-la na Assembléia Legislativa, onde ingressei em fevereiro deste ano.
Na Assembléia permaneci por exatos seis meses, mas que foram tão intensamente vividos, que valeram por anos, e proporcionaram o surgimento de um sentimento em mim que estava adormecido. O gosto pela política.
Acompanhando a luta desta jovem aguerrida e impressionantemente inteligente em busca de reconhecimento e espaço dentro do partido que seu avô criou, e da qual foi à grande e insubstituível liderança, só fez crescer a minha admiração e o respeito por ela. Nestes seis meses que estive ao lado de Juliana Brizola, vi uma liderança diferenciada, representante de uma nova geração de políticos, mais moderna, menos dona da verdade, e o mais importante, uma mulher, mãe, com um filho pequeno e que tenta conciliar a vida pública sem renunciar a família, como fazem a maior parte dos políticos, e até por isso é bastante incompreendida. Orgulho-me muito de ter servido a Leonel Brizola da mesma forma a sua neta Juliana Brizola.
Mas, se por um lado eu pude ver nascer uma promissora liderança, e conviver com uma política sensível, que sempre tratou a todos com respeito, pois durante os seis meses que a acompanhei, jamais a vi ser imprópria com um colaborador ou qualquer outra pessoa, sempre soube escutar de forma humilde, tratando a todos com cortesia e educação, por outro lado a vi sofrer um massacre vindo do próprio partido. Tudo o que vivi nestes seis meses me fizeram recuperar o amor pela política e a vontade de fazer a diferença, porém me deram a certeza de que a escolha que tinha feito em 2000 estava correta em deixar o PDT.
Não vou utilizar esse espaço para criticar o PDT e suas lideranças, pelo respeito a história do partido e pelos inúmeros amigos que tenho no PDT, pessoas que foram e são importantes para mim. A decisão de não voltar a me filiar e optar por retomar minha caminhada política em outra sigla foi muito difícil, pois por questões éticas, tive também que deixar de estar ao lado da Juliana e seus irmãos Leonel e Carlito nesta cruzada pela reconstrução da sigla. Sempre me senti em casa dentro do PDT e tenho muitos laços afetivos com as pessoas e com o Brizolismo, mas o PDT parece não estar aberto a novas formas de pensar, a novas lideranças, ele está fechado. Para mim não dava, talvez não seja o PDT que não sirva para mim, mas eu que não sirva para o PDT.
"Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há homens que lutam por um ano, e são melhores;
Há homens que lutam por vários anos, e são muito bons;
Há outros que lutam durante toda a vida, esses são imprescindíveis."
(Bertolt Brecht)
Mas, se pudesse deixar um conselho, diria a meus amigos do PDT, que o recado que eles passam para a sociedade é muito ruim. Parece que no PDT não têm espaço para novas formas de pensamento, que os ideais vêm em segundo plano e o que importa é conquistar cargos e mais cargos, que se alguém se insurgir contra isso, será perseguido, independente de quem seja. Se fazem isso com os legítimos herdeiros de Leonel Brizola, o que farão com os “Zés”.
Posso até estar errado, mas lutei uma vida inteira para construir um mundo melhor para todos nós, meus filhos e netos sempre pagaram com ausências e poucas riquezas por minha escolha idealista, mas espero que quando me for, meus amigos, e aqueles que gostaram de mim, estendam a mão a meus descendentes, caso eles precisem. Não peço favorecimentos, mas conselhos, apoio, compreensão, e o que vi nestes últimos meses, foram pessoas que muito se beneficiaram da imagem de Brizola, perseguirem seus descendentes. Para mim, assim não dá.
Assim, meu Brizolismo está aceso dentro de mim, ainda mais após comemorarmos os 50 anos da Legalidade e a convivência com os netos de Brizola, com quem construí uma amizade que pretendo levar por toda a minha vida. Da mesma forma que carrego minhas convicções socialistas e meu guevarismo por onde vou, também sempre levarei o meu Brizolismo onde estiver.
Brizola Vive!
Texto originalmente publicado no Blogue Testemunha Ocular em 24.09.2011
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