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  • Foto do escritorSerginho Neglia

O Drama da esquerda Porto-alegrense na reta final das eleições municipais

Atualizado: 28 de nov. de 2020


Não tenho dúvidas que a cidade de Porto Alegre é uma das cidades onde reside a maior população de militantes de esquerda do Brasil. Nossa cidade tem uma característica progressista e mesmo com a crise que a esquerda brasileira vive, e com a onda conservadora que cresce em nosso país, Porto Alegre ainda resiste. Basta que vejamos as manifestações que aqui são realizadas. Porém, mesmo com essa característica, a poucos dias do primeiro turno das eleições municipais, as candidaturas “consideradas” de esquerda correm o risco de ficar fora do segundo turno.


Embora as pesquisas iniciais apontassem para uma confortável liderança da candidata do PSOL, Luciana Genro, tendo Raul Pont, do PT, em segundo lugar, as últimas pesquisas apontam uma queda acentuada de Luciana Genro, com a inversão de posições com o candidato Sebastião Melo, do PMDB, que assumiu a ponta, e um empate entre Raul Pont e Nelson Marchezan, do PSDB, na segunda posição.


A queda de Luciana Genro (PSOL)


Credito sua queda basicamente a três fatores: Primeiro o pouquíssimo tempo de televisão. Mesmo com todos os esforços, a candidata do PSOL não conseguiu aglutinar forças na construção de uma aliança que lhe proporcionasse ampliação do espaço na televisão e nas ruas, sua coligação É A VEZ DA MUDANÇA é composta de três pequenos partidos (PSOL, PPL e PCB). O PSTU virtual aliado, preferiu a candidatura própria. Sua candidatura permanece no isolamento.

Luciana Genro (PSOL) viu sua vantagem derreter. Foto retirada do site da campanha

Creio também que houve um erro no discurso. Se separarmos o discurso apenas, sem a voz e a imagem, perceberemos que em muitos pontos se assemelhou ao do Marchezan, candidato do conservadorismo, demonizando os partidos, os CCs, se colocando como a única que pode fazer aquilo que não foi feito, falando em “mãos limpas”. Focando nos descontentes, nos indignados, Luciana surfou na mesma onda que o candidato do PSDB, e como ele tinha mais tempo de TV, mais apoio e mais dinheiro, acabou levando a melhor.


Terceiro ponto que considero importante, é que para disputar uma eleição em uma cidade da dimensão de Porto Alegre, é preciso ter um partido forte e estruturado em toda a cidade, ou construir uma aliança que lhe proporcione ter capilaridade, o que não é o caso da candidatura da Luciana. Ela crítica os partidos e as alianças simplesmente porque não conseguiu aliados para seu projeto, pois ela, assim como seus companheiros, sabe que é preciso ter força, um verdadeiro “exército” de militantes, para cobrir uma cidade do tamanho da nossa, principalmente quando não se tem espaço expressivo na TV, o que compensaria a ausência mais efetiva na rua. O PSOL, no inicio da campanha, surpreendeu a todos com cabos eleitorais contratados e anúncios caríssimos nos principais jornais, porém, não foram suficientes para lhes manter na liderança.


A resistência do RAUL PONT


Desde o início, com grande franqueza, o candidato do PT, Raul Pont, tem manifestado que só se candidatou porque foi convocado pelo partido. Saiu de sua “aposentadoria” das disputas eleitorais para cumprir uma “missão partidária”, a exemplo do Olívio Dutra nas eleições de 2014, porque os possíveis virtuais candidatos, Maria do Rosário e Henrique Fontana, “declinaram” da missão. Deixaram a batata quente para o “velho Raul”.

Raul Pont deixou a “aposentadoria” para cumprir a missão partidária, mas por um erro no alvo, corre o risco de ser ultrapassado por Marchezan. Foto retirada do site da campanha

Raul Pont resiste na segunda posição, estacionado com os mesmos índices nas pesquisas desde o início da campanha, não cai nem avança, enquanto vê o Marchezan encostar, perigando ultrapassá-lo na reta final e lhe tomar o segundo lugar e a vaga para o segundo turno. A tarefa do PTista não é nada fácil, há um grande movimento antiPTista que só não o liquidou porque o ex-prefeito goza de boa credibilidade junto a população. Mesmo usando alguns truques como não colocar a estrela e nem a sigla do PT no programa de televisão, e usar e abusar da imagem da Manuela (PCdoB), que aparece na TV até mais que ele próprio, Raul não consegue crescer.

Raul também não conseguiu apoiadores, o único partido aliado é o PCdoB, que têm sido fiel ao PT mesmo depois de ter sido traído por ele nas eleições municipais de 2012, quando os PTistas preferiram lançar candidatura própria à apoiar a candidatura de Manuela, como havia sido acordado anteriormente nas eleições de 2010.


O erro estratégico das candidaturas “de esquerda”


O fator que fortalece a candidatura de Raul é o movimento Fora Temer, que é expressivo em Porto Alegre, porém, identifico um erro estratégico deste setor. Movidos pelo ódio ao Temer e ao PMDB, esse grupo direcionou sua artilharia para a candidatura de Sebastião Melo, enquanto o verdadeiro representante das elites, apoiado pelo MBL e que participou ativamente dos movimentos contra Dilma em Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior (PSDB), não recebeu sequer um minutinho de atenção. Livre, foi crescendo a ponto de poder efetivamente disputar o segundo turno deixando os candidatos “de esquerda” de fora.


O PT repete o erro de 1989 quando atacava Leonel Brizola para tomar seu lugar no segundo turno e deixou Collor livre para lhes ganhar a eleição. Assim como em 2014 quando direcionou todas as suas forças contra a candidatura de Marina Silva, ex-PTista, então concorrendo pelo PSB, antigo aliado, deixando o PSDB correr sozinho, e crescer, a ponto de quase vencer o PT no segundo turno. Parece que o PT prefere atacar os antigos aliados, principalmente àqueles que já ocuparam suas fileiras, como o Prefeito José Fortunati, aos tradicionais opositores.

Enquanto é poupado pelo PT e PSOL, Marchezan foi crescendo e ameaça deixar os adversários para trás. Estratégia dos partidos de esquerda facilitaram a vida do candidato da direita

De um lado o PSOL e o PT dizem que sua luta é ideológica, mas na prática a estratégia é eleitoral. Atacavam a Marina porque estava na frente das pesquisas, após a morte de Eduardo Campos, assim como passam o tempo todo atacando a atual administração, falando da água, das obras inacabadas, enquanto o espaço que estão dando para as questões de fundo, para o “combate as elites e as oligarquias” é inexistente.


Fortunati e Melo não estiveram à frente de nenhum movimento pró-golpe, o PDT, partido de Fortunati e de Juliana Brizola, vice do Melo, foi um dos poucos partidos que se manteve fiel a Dilma (Pagou e está pagando um preço alto por isso), e mesmo assim, o PT passou a campanha toda criticando-os ao invés de direcionar suas forças contra o crescente movimento de direita, representado por Marchezan. Nos debates, os candidatos do PT e do PSOL chegaram a fazer dobradinhas com os candidatos do PSDB e do PTB, do Roberto Jeferson, para atacar Melo. O resultado está aí, queda da esquerda, crescimento da direita. Até quando a esquerda vai servir de trampolim para a direita?


Desde 1989, quando Lula serviu para tirar Brizola do segundo turno, a esquerda prefere se aliar aos conservadores para resolver suas “quizilas domésticas” (Atacar ex-aliados e ex-filiados) do que fortalecer o seu campo e apresentar para a população os benefícios das candidaturas populares. Acho que o PT e o PSOL erraram feio na mão e não sei se vão conseguir mudar o rumo antes de ver o “bonitinho da direita” crescer às suas custas.


O isolamento do PT e do PSOL está no “velho” erro de achar que esquerda é quem os apoia, que eles são o parâmetro para definir se uma candidatura é do campo popular ou não. Fazer política com estômago, com radicalismo, não os têm levado a lugar algum.

Vamos aguardar para ver onde esta estratégia vai dar.

Apesar dos ataques de todos os demais candidatos, a candidatura de Sebastião Melo e Juliana Brizola, que conta com o apoio de diversos partidos, ainda apresenta crescimento nas pesquisas. (Foto retirada do Facebook)

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