Antes mesmo de eu nascer as “forças ocultas” já existiam, lembro até que um presidente do Brasil renunciou se dizendo pressionado pelas “forças ocultas” (Jânio Quadros em 1961).
Durante minha adolescência, juventude e até agora na fase adulta, com certa frequência me deparo com elas, o que gera em mim um impressionante desgaste mental tentando decifra-las e os seus efeitos nas pessoas.
Quando era criança, e também na adolescência, existia um “glamour” em fumar cigarro, era uma coisa impressionante ver as pessoas tossindo, tendo irritação na garganta mas se esforçando para aprender a fumar, pois era chique, e os adolescentes e até crianças chegavam a juntar baganas dos chãos para fumar, ou apenas fazer de conta que estavam fumando. Eu ficava olhando aquilo e não entendia, pois o cheiro era ruim, as pessoas que fumavam tinham os dentes todos amarelados, e muitos desenvolviam doenças que os levavam a morte, alguns inclusive morriam tentando se livrar do vício que os aprisionava. Na televisão, nas novelas e nos comerciais o cigarro era idolatrado, e pessoas como eu, se sentiam verdadeiros ETs por não fumar, uns “otários”. Acontece que não via nenhum sentido naquilo, minha mente racional não compreendia o porquê de ter que se envenenar para parecer chique. Talvez por isso sou essa figura “brega” até hoje.
Com a bebida era a mesma coisa, e funciona até hoje, tipo: Beber é coisa de adulto! Então as crianças, e principalmente os adolescentes, que não veem a hora de serem adultos, começavam a beber desde cedo, muito jovens ainda, e quem não bebe é “criancinha”. Pior é que ainda funciona e talvez, por isso, tenhamos um número absurdo de alcoólatras em nosso país.
Com o tempo, o desenvolvimento da ciência, e com ela, também o desenvolvimento da inteligência humana, os seres humanos foram refletindo, pensando, fazendo cálculos, e perceberam que fumar não era legal, que mais trazia prejuízos do que benefícios, por isso começaram a criar restrições, pois se simplesmente banissem o cigarro, a sociedade entraria em colapso tamanha é a dependência que ele causa. Gostaria de prestassem bem atenção nesta palavra: DEPENDÊNCIA, que quer dizer sujeição, subordinação, pois ela é fundamental na mensagem que quero transmitir.
Também já se tentaram criar restrições á bebidas alcoólicas, como as do cigarro, porém, ambos, têm por trás grandes e poderosos conglomerados econômicos, são geradores de riquezas e produzem lucros incalculáveis. O “Estado”, principalmente de países capitalistas subdesenvolvidos e emergentes, como o nosso, são reféns, e impotentes diante de tanto poder econômico.
Porém, não eram só o cigarro e a bebida que me assombravam na adolescência e juventude. Havia também a famosa “Cannabis sativa”, popularmente conhecida como maconha. Imaginem vocês: Jovem, militante do movimento estudantil, cabelo comprido, usando sandália e macacão e militante de organização de esquerda. Só pode ser maconheiro! E todos pensavam assim, tanto que nas revistas de rotina da polícia, eu sempre era selecionado, na rua, no ônibus, onde estivesse. Certa vez, em São Paulo, caminhando pela calçada, fui abordado, do nada, pela ROTA. Até hoje não entendi porque àqueles caras gigantes, de doze na mão, quase me quebraram todo em uma abordagem só por estar caminhando na rua.
Era assim que todos pensavam: Militante de esquerda, o pessoal das artes, músicos, atores, artistas em geral, estudantes universitários, tinham que fumar maconha porque aquilo era um símbolo da rebeldia, era como se fosse parte do vestuário destas classes, sem a qual não seriam autênticos. Eu, ser tudo o que descrevi, e não fumar maconha, era como se eu não fosse bom naquilo, como se eu fosse um intruso no meio, um ser “estranho”.
Mas nem uma provinha? Porque deveria provar? Eu respondia. Qual a necessidade que eu tenho de fazer algo que não me trará nenhum benefício, que não me fará bem, apenas para cumprir uma regra ou conceito que sequer sei como e porque foi criada?
"Até quando as forças ocultas irão determinar quem somos e o que fazemos?"
Pois é, “forças ocultas” estabelecem comportamentos, hábitos, costumes, que a maioria de nós segue sem questionar, e que de certa forma tolhe toda a individualidade e a nossa essência, pois passamos a representar um papel, ser o que querem que a gente seja, agir como querem que a gente aja. Para ser aceito no grupo e considerado “autêntico” somos obrigados a agir como os demais, nos vestir e nos comportar como os outros se comportam, caso contrário, seremos jogados na escuridão de não pertencer a lugar nenhum, a sermos rejeitados, excluídos, e às vezes até humilhados.
Não sei quando criaram, mas sei que sempre existiram, os rituais de passagem, as “provas de fidelidade” ou coisas do gênero. Estranhamente os grupos estão sempre exigindo que os indivíduos provem que podem fazer parte daquela “casta” e deles exigem que façam algo, geralmente que não fariam, digamos, de “sã consciência”. Fumar um baseado, cheirar uma coca, se tatuar, fazer um corte de cabelo estranho, tomar um porre, fazer pichações e vandalizar prédios privados e públicos, se mutilar, jogar coquetel molotov na policia, virar carro da imprensa, tocar fogo em ônibus, brigar na rua, enfim, parece que estamos sendo, a todo o momento, postos a prova, nos submetendo para poder pertencer a algo ou a algum grupo. Porque?
Os fortes resistem, os fracos sucumbem!
Ninguém = Ninguém
Engenheiros do Hawaii
Texto originalmente publicado no Blogue Testemunha Ocular em 11.02.2014
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