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Foto do escritorSerginho Neglia

O valor venal das pessoas

Atualizado: 28 de nov. de 2020

Hoje é véspera de feriado da Proclamação da República e ontem li o desabafo de uma amiga no Facebook que dizia o seguinte: Enquanto uns competem carro e beleza, outros se unem em favor da sobrevivência. Será apenas uma realidade cruel? Ou será consequência da própria miséria (ética/moral/intelectual) que o homem se encontra na atualidade? Tá tudo tão errado que não sei nem por onde começar. Chega a doer. Até quando..?”


Não sei do que ela falava especificamente, mas estava incomodada com aquilo que ela chamou de miséria (ética/moral/intelectual). Há pouco mais de 2 anos retornei a militar em um partido político, e neste período tenho tentado me adaptar aos “novos tempos” o que, confesso, não tem sido nada fácil, pois os partidos políticos são parte de nossa sociedade, e portanto sofrem dos mesmos problemas. Enganam-se aqueles que acham que são coisas separadas.

Quando comecei a fazer política, na década de 80, nossos sonhos políticos eram imensos, pois queríamos mudar o mundo, e nossos objetivos materiais mínimos, tendo um pão e um pouco de água, saíamos daqui e íamos para Brasília protestar. Assim como no comercial do cartão de crédito, algumas coisas não tinham preço (ideais, ética, moral, companheirismo, solidariedade, eram algumas destas coisas que dinheiro nenhum comprava). Infelizmente isso mudou. Hoje tem muita gente trocando moral por Iphone e outros tantos valores importantes por qualquer quinquilharia. Me faz lembrar o período do descobrimento, quando os portugueses levavam nossas riquezas em troca de colares e espelhinhos.


A política está assim, mas, porque a sociedade está assim. As pessoas esqueceram que nosso trabalho pode ter um preço, e cada um estipula o seu. Quanto vale uma hora de teu trabalho? Porém, seus valores, sua integridade, sua honestidade, sua moral, seus ideais e sua alma, não poderiam ser vendidos por preço nenhum, pois, depois que vendê-los, não haverá dinheiro no mundo que lhe proporcione comprá-los de volta.


Sempre falo, sob protesto de alguns amigos, que o capitalismo é um sistema perverso que corrompe a alma das pessoas, e a cada dia que passa acho essa frase mais verdadeira, bastando apenas analisar fatos cotidianos da vida que vivemos.


Quantas pessoas você conhece que, mesmo ganhando um salário pequeno ou trabalhando naquilo que não gostam, fariam “qualquer coisa” para se manter no emprego?


Quantas pessoas você conhece que fazem um gato na NET para não pagar R$ 100,00 pelo pacote mensal?


Não quero dimensionar o que é certo ou o que é errado, pois isso é relativo ao conjunto de valores pessoais de cada um de nós, mas quero que se perguntem o que realmente tem valor em nossas vidas e qual o valor que damos para estas coisas.


Qual o valor das pessoas?


Qual o valor da vida? Essa é de resposta fácil, todos sempre respondem que a vida não tem preço, porém, nunca se perguntam sobre o valor da vida que se leva. Quanto pagamos em sofrimento, em tristeza, pela vida que levamos?


Quanto pagamos para manter um sistema e um estado de coisas que nos faz infeliz? Quanto vale a nossa felicidade?


Qual o valor que pagaríamos para andar de cabeça erguida, dar bom exemplo aos filhos e ter orgulho do que somos?


Quanto pagaríamos para compreender qual o verdadeiro sentido da felicidade?


Precisamos, de forma individual e coletiva, descobrir o valor das coisas, saber o que é possível ser comprado e aquilo que não tem preço. Enquanto isso não acontecer teremos que fazer a pergunta que minha amiga fez, sem encontrarmos a resposta: Até quando?


Texto originalmente publicado no Blogue Testemunha Ocular em 14.11.2013

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