No primeiro semestre de 2014 estávamos todos lá, prédio 1 da FAPA, cheios de projetos e sonhos iniciando o curso de História. Havíamos ingressado em uma das mais respeitadas faculdades de licenciatura em História do estado.
A FAPA nunca foi uma grande faculdade, lembro que na minha juventude se tinha até um certo preconceito com ela, talvez por não ter o Glamour da UFRGS e da PUC, porém, o certo é que a FAPA talvez tenha sido a principal formadora de professores do Rio Grande do Sul, pois, quando perguntávamos onde haviam se formado, um significativo número de professores respondia FAPA.
A FAPA insistiu nos cursos de licenciatura na medida em que as outras faculdades investiam em cursos que davam mais dinheiro, ou em pesquisadores, como a UFRGS, restava aos aspirantes a já marginalizada profissão de professor o aconchego do belo campus da Faculdade Porto-Alegrense. A FAPA também era a única Faculdade localizada na Zona Norte, uma das regiões mais populosas da cidade, e também uma das mais carentes.
Estávamos lá, eu já com mais de 40 anos motivado a realizar o curso por um bom desempenho no ENEM 2013, que fui fazer para acompanhar a minha filha Renata, e que me proporcionou disputar, com grandes chances de seleção, uma bolsa do ProUni. A média do ENEM de quase 700 pontos me abria uma grande possibilidade de cursos, porém, na minha idade, não poderia escolher algo que não tivesse muita vontade em cursar, licenciatura em História foi a escolha, então me candidatei as únicas duas vagas disponíveis que tinham (Na época até reclamei da pouca oferta de vagas de licenciatura, eram apenas 12, enquanto para marketing existiam mais de 100) eram duas bolsas de 100% e duas de 50% (Que foram conquistadas por mim e pelo colega Noé Gonçalves), era o primeiro ano que a FAPA participava do ProUni. Finalmente eu iniciava uma caminhada para me transformar em um dos profissionais que mais respeito, um Professor.
Assim como eu, iniciavam naquele semestre mais de 30 projetos pessoais, em sua maioria jovens, mas haviam também adultos com mais de 30 e 40 anos e, independente da idade, todos traziam consigo expectativas, sonhos e projetos de vida.
Nossa primeira aula foi com o professor Gilson Pereira de Didática, e ele realizou uma dinâmica que ajudou a nos conhecermos e a reconhecer semelhanças e diferenças entre nós. As aulas começavam com o pé direito, escrevi sobre isso na época (goo.gl/E0H6ag). A FAPA nos oferecia um corpo de professores muito bom, pois além do Gilson, tivemos aulas com o incomparável Ricardo Fitz, com o concentrado Alberto Oliveira, a apaixonada Letícia Godoy, a pacienciosa Maira Brauner, a inesquecível e performática Sandra Carelli, com o sábio Arilson dos Santos Gomes, com a Claudira Cardoso e a Maria de Lourdes, além do Valter Lippold, do Ronaldo Queiroz e do Raul Rebello Vital Júnior, que permanecem na FAPA.
Já no final do primeiro semestre começavam especulações de que a FAPA estava sendo vendida, o que se confirmou. O grupo americano Laureate, que havia comprado a UniRitter, adquiriu também a FAPA, principalmente pelo campus, pois desde o início demonstraram não ter interesse nos cursos oferecidos, em especial nas licenciaturas, que são considerados cursos pouco rentáveis, já que o negócio deles é “money”. Passávamos, a partir daí, a ser a última turma do curso de História da FAPA.
A UniRitter não oferecia o curso de História, e começamos a temer pelo nosso destino, uma vez que cursos em extinção perdem muito em qualidade e em algumas vezes são concluídos de forma precária, pois o ingresso de turmas novas amplia o número de alunos, no nosso caso só diminui, pois além de nós os “calouros”, restavam apenas os “veteranos”, que estavam por concluir o curso. De lá para cá nossas turmas têm sido compostas dos remanescentes desta turma e de estudantes das turmas anteriores que cursam as disciplinas que estão faltando para sua conclusão.
A UniRitter só veio a abrir o curso de História pois realizamos uma manifestação que parou o Campus e interrompeu a Avenida Manoel Elias, vários estudantes, de diversas formas, se manifestaram e pressionaram para que fosse garantida a qualidade para a conclusão do curso e que houvesse a disponibilidade do curso de História na UniRitter, na época fiz um post no Facebook que recebeu milhares de curtidas e centenas de compartilhamentos pedindo respeito a “História da FAPA”. Conquistamos a criação do curso, mas não conseguimos garantir a manutenção da qualidade da nossa formação, que vem sofrendo com a pouca oferta de disciplinas, principalmente as anteriores o que obriga os estudantes a cursarem em outras faculdades para completar o currículo. A situação só não é pior porque os professores remanescentes se esforçam para manter a qualidade das disciplinas oferecidas.
Enfim chegamos em 2017, ao final deste ano uma parte dos alunos desta última turma se formará, restando apenas aqueles que, como eu, não cursaram todas as disciplinas e terão de recuperar mais adiante. O prazo máximo para a conclusão e o fechamento definitivo do Curso de História da FAPA é dezembro de 2019, até lá, todos que quiserem ter um diploma de formação da FAPA terão que concluir seus cursos.
Não será nada fácil para esses remanescentes, pois a cada semestre que passa o número de professores diminui, nesse semestre são quatro apenas, que se revezam dando mais de uma disciplina, e ao final do ano conclui-se o currículo normal e não sabemos como serão ofertadas as disciplinas que faltarão para os alunos remanescentes concluírem suas graduações, por isso, tem sido feito, pela coordenação do curso, um trabalho intenso para que os alunos que possuem disciplinas pendentes migrem para a UniRitter, algo que eu não poderei fazer pois sou bolsista do ProUni e se migrar perco a bolsa. Quanto menor for o número de alunos remanescentes maior será a dificuldade na oferta de disciplinas.
Hoje o ano letivo de 2017 começa com alegria e uma certa melancolia. Pretendo fazer todas as disciplinas possíveis para estar junto com os colegas até o final do ano e comparecer em suas formaturas, pois, neste três anos compartilhamos de muitos momentos juntos, as angústias, as alegrias. Nestes anos muitos seguiram outros rumos, deixaram a faculdade pelos mais diversos motivos, e para matar a saudade e registrar esse momento, fui buscar as fotos que fiz nos primeiros dias de aula e pesquisei com cada um dos colegas onde estão e o que estão fazendo. Pois, mesmo contra nossa vontade, fomos a última turma a ingressar no respeitado curso de licenciatura de História da FAPA, curso este que não existirá depois de nós.
Esse será nosso último ano como turma e espero aproveitar o máximo do tempo com vocês, o grande aprendizado que a convivência diária nos proporciona, a riqueza da diversidade de um grupo tão heterogêneo, o compartilhar do conhecimento, o prazer de estar juntos. Que 2017 seja um ano muito especial para todos nós!!!
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