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  • Foto do escritorSerginho Neglia

Será que no futuro poderemos continuar rindo de nós mesmos?

Atualizado: 28 de nov. de 2020


Sou o tipo de pessoa que não sabe contar piada, o legítimo “sem graça”. Por outro lado,  morro rindo de tudo que é piada que me contam (Claro que algumas nem eu consigo achar graça, outras porém chego a passar mal rindo). Como minha filha Renata diz: “O pai ajuda a levantar o ego das pessoas, pois ele morre rindo das piadas que todo mundo conta”. Outro dia um colega comentou: “As vezes a piada não é tão engraçada, o mais engraçado é ver o Serginho morrer de rir”. Afinal, rir não é contagioso?


Já tive oportunidade de conhecer outros lugares e outras culturas, e uma das coisas que chamam atenção no brasileiro é o hábito de rir de si mesmo, de fazer piada com as nossas próprias dificuldades, nossas mazelas. Talvez uma analise especializada, que não tenho condições de fazer, pudesse explicar esse inconsciente coletivo que faz nosso povo levar com humor até coisas que podem ser consideradas absurdas. Brasileiro faz piada da morte, da pobreza, da deficiência, da desgraça, de tudo, e não raro acaba por chocar algumas culturas com isso, por este motivo, temos que tomar cuidado em exercitar nossas habilidades humorísticas em alguns lugares do mundo.


Quando via aquelas pegadinhas da TV eu ficava pensando: Será que elas poderiam ser realizadas em outros países? Será que as pessoas autorizariam a exposição de sua pagação de mico na televisão?  Lembro uma em que colocaram um guindaste nesses banheiros químicos, e quando a pessoa estava lá, sentada, erguiam as paredes do banheiro e a pessoa ficava exposta em “praça pública”. Não importava se fosse homem ou mulher, os caras subiam as paredes e deixavam a pessoa ali de calças arriadas. Sempre me perguntei como as pessoas conseguiam levar isso na “esportiva”, e até hoje acho que aquilo era armação.

Mas foi uma charge que me fez escrever. Era aquela imagem da evolução humana e ao final tinha a imagem de um gay e o último homem retornando dizendo: Volta que deu merda! Quando um amigo me mostrou eu ri, achei uma boa sacada (só agora pesquisando imagens para este texto eu vi que existem várias versões, mas não encontrei uma igual a que ele me mostrou), porém segundos depois eu me senti constrangido, culpado, por estar rindo de uma piada “preconceituosa”. Diante de minha “culpa” comecei a refletir: Será que o humor característico dos brasileiros não está com os dias contados? Com o passar do tempo e com os muitos “crimes” que cometemos, e com esse “jeitinho” de levar muita coisa na brincadeira acabamos em uma encruzilhada. Lembro que o Maurício de Souza teve dificuldade de ingressar no mercado americano das histórias em quadrinhos, porque, para eles, personagens infantis que trocam o “r” pelo “l”, que não tomam banho, que batem em seus amigos com um coelho, ou que andam sempre descalços, não são “educativos” e o que para nós era inocente, para eles era “impróprio”. Será que o politicamente correto não irá “sufocar” nosso humor?


Fico pensando no que é politicamente correto fazer no humor, sobre como podemos fazer piada sem agredir algo ou alguém? Quando escuto, assisto ou leio uma piada, não penso nela como algo sério, porém, como diferenciar o humor do preconceito?


Já tivemos algumas polêmicas no humor, o Rafinha Bastos sofreu um processo e perdeu o emprego por fazer piada com a Vanessa Camargo, o Danilo Gentili está sempre enrascado com suas “gracinhas” e o porta dos fundos foi processado pelo Pastor Feliciano por fazer piada com a crucificação de cristo e a virgindade de Maria.


O vídeo abaixo, Especial de Natal, publicado em Dezembro de 2013 motivou processo do pastor Feliciano

Escutei uma entrevista do Pastor Feliciano e entendi seus motivos, afinal ele não gosta que brinquem com algo que para ele é sério, que é Jesus Cristo. No fundo, as piadas sempre acabam ferindo alguém, pois para ser engraçada alguém tem de levar a pior, e aí não vai gostar. Falam muito da “inocência” do humor dos trapalhões, que me criei assistindo, mas se olharmos com um olhar crítico perceberemos conteúdo preconceituoso com os “nordestinos”, os negros, os gays, pois no fundo, o humor dá uma esculhambada na realidade, é que nem a caricatura, o cara olha para ti e dá uma sacaneada destacando algo que geralmente você não gosta, tipo o narigão, a orelha grande e etc… Lembro de um cara que fazia caricaturas na rua dos Andradas e tinha um cartaz mais ou menos assim: Caricaturas – uma vítima, duas vítimas, ai vinha o preço e a frase de efeito “Esculhambação garantida!” e as pessoas faziam fila para sentar na cadeira em plena rua e ficar posando para ele, enquanto quem passavam na rua paravam e ficavam rindo olhando para o desenho, e para a “vítima”, riam, e o cara ali todo sem jeito aguardando para ver o resultado final. Pela risada dos observadores se imaginava quão boa estava sendo a “esculhambação”. Será que isso tudo vai acabar?


PS: Meses após escrever este texto, em 07 de Janeiro de 2015, A revista satírica francesa Charlie Hebdo sofreu um atentando onde morreram alguns de seus principais chargistas, entre eles O editor-chefe, Charbonnier, o Charb (Foto em destaque neste post). O motivo foram as frequentes Charges envolvendo o Profeta Maomé, que desagradaram grupos extremistas islâmicos. 

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