"Um homem é um sucesso se pula da cama de manhã, vai dormir à noite e, nesse meio tempo, faz o que gosta"
(Bob Dylan)
Esta semana minha filha caçula assinou seu primeiro contrato de trabalho, um contrato de estágio, e ontem, dia 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, foi seu primeiro dia de trabalho. Alguns dirão, lá vem o coruja falando das filhas, mas aqueles que me conhecem sabem que, para mim, todas as coisas tem significado e de tudo tiramos um aprendizado e uma reflexão.
Nossa vida é feita de etapas, e existem momentos que jamais viveremos novamente, por isso, os filhos tenham tanto significado em nossas vidas, nós vivemos em nossos filhos, mesmo após nossa partida, e através deles podemos vivenciar alguns momentos mais de uma vez. Se eu vivenciei o primeiro dia de aula, o primeiro emprego, com minhas filhas tive mais três. Hoje, vendo minha caçula, Renata, vivendo esse momento, viajei no tempo, e além de um começo, é o fim de um ciclo, pois ela é a última a ingressar no mercado de trabalho e, portanto, não provarei deste sentimento novamente.
Quando era guri sonhava com o primeiro emprego, que geralmente era de empacotador de supermercado ou Office boy, o meu foi em uma empresa de cobranças, antes eu já tinha feito uma porção de coisas para conseguir uns trocados para levar um ki-suco para casa, mas nada como ter um salário, por menor que seja, no final do mês. Trabalhar foi sempre uma honra, pessoas de bem trabalhavam desde cedo, e quem chegava aos 18 anos e não trabalhava era chamado de vagal. Hoje é comum encontrarmos jovens de 30 anos que nunca trabalharam, apenas estudam, e estão aguardando para serem chamados em alguns dos diversos concursos públicos que fizeram (este é assunto para outra postagem).
Muitos pais têm dúvida se devem incentivar seus filhos a ingressarem no trabalho cedo, a maioria se preocupa que o trabalho possa prejudicar os estudos, e estudar é prioridade, pois “sem estudo não serão nada na vida”. Diante deste dilema me pergunto: Como ela vai aprender sobre o que gosta, ou não, de fazer, sem trabalhar? É no cotidiano do trabalho que aprendemos a conhecer a nós mesmos, a descobrir o que nos dá prazer em fazer, o que nos encanta, e também o que não gostamos. No trabalho aprendemos o que nos motiva a acordar, ano após ano, e nos dirigirmos para o mesmo lugar, sorridentes e felizes, para fazer aquilo que gostamos. Como saber disto se não trabalharmos? Como saber se é aquilo que queremos fazer? Infelizmente, muitos jovens, pressionados por uma sociedade que lhes exige um diploma, descobrem, tardiamente, que não gostam de fazer aquilo para o que estudaram durante anos. Não é raro encontrarmos pessoas com formação em uma área, trabalhando em uma profissão antagônica daquela para qual foram treinadas, a ponto de não terem, sequer, uma leve semelhança com seus diplomas pendurados na parede ou guardados em uma gaveta.
Certa vez li uma frase que dizia: “Trabalho por Amor, liberdade na ação!” Pois entendo que a nossa segurança, a nossa estabilidade, não é necessariamente trabalhar no serviço público, a estabilidade está em gostar daquilo que fazemos, seja na iniciativa privada ou pública. Quem de nós já não entrou em uma loja e percebeu que aquele (a) vendedor (a) estava exatamente no lugar que deveria estar, que havia nascido para isso, e que transformava o atendimento em algo encantador a ponto de nos fazer adquirir até mais do que fomos procurar? Quem de nós já não foi mal atendido em algum lugar, onde a pessoa que nos atendia, deixava claro que era infeliz exercendo aquele trabalho?
As pessoas esquecerão quão rápido você fez um trabalho, mas sempre lembrarão quão bem você o fez.
(Howard Newton)
Pois é, a Renata só vai descobrir o que ela gosta de fazer, fazendo! Não poderei viver sua vida por ela, não poderei protegê-la dos maus colegas, ou dos patrões ruins, não poderei protegê-la da inveja e das maledicências cotidianas, das puxadas de tapete. Terei de confiar nos valores e na educação que lhe transmiti e torcer para que ela tire, dessa e de outras oportunidades, a melhor lição possível.
Espero que esse seja o começo de uma vida profissional de sucesso, onde ela saiba o valor do trabalho e que ele possa lhe prover o sustento pessoal e da família que construir. Espero que ela faça amigos queridos no trabalho, que se especialize na arte de viver em grupo, de compartilhar, se solidarizar, lutar e conquistar coletivamente. Desejo que ela possa contribuir para o crescimento do país, auxilie os outros a serem felizes e ajude a quem precisar. Espero que ela possa ter, todos os dias, um sorriso no rosto, e contagie quem estiver ao seu redor, não discriminando, respeitando a todos, independente da cor da pele, de preferências sexuais, religiosas e etc, pois trabalhar é tudo isso e muito mais. É ser o instrumento de crescimento, de felicidade e prosperidade, por isso ele deve, SEMPRE, ser realizado com muito Amor e Dedicação.
Por fim, espero que ela tenha boa sorte, que possamos estar entregando uma boa profissional ao mercado, e nos momentos difíceis, lembre sempre do que ensinamos e daquilo que é mais importante.
Fábrica
Nosso dia vai chegar,
Teremos nossa vez.
Não é pedir demais:
Quero justiça,
Quero trabalhar em paz.
Não é muito o que lhe peço
- Eu quero um trabalho honesto
Em vez de escravidão.
Deve haver algum lugar
Onde o mais forte
Não consegue escravizar
Quem não tem chance.
De onde vem a indiferença
Temperada a ferro e fogo?
Quem guarda os portões da fábrica?
O céu já foi azul, mas agora é cinza
O que era verde aqui já não existe mais.
Quem me dera acreditar
Que não acontece nada de tanto brincar com fogo,
Que venha o fogo então.
Esse ar deixou minha vista cansada,
Nada demais.
Texto originalmente publicado no Blogue Testemunha Ocular em 09.03.2013
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