A lembrança mais remota de eleições que tenho na vida é do ano de 1978, período da ditadura militar, quando eu, com apenas nove anos, colecionava ‘santinhos’, e andava catando-os pelas ruas para depois passar horas organizando a coleção. Era o período da "Lei Falcão" quando os programas eleitorais só mostravam uma foto,o nome e número do candidato então eu acompanhava para ver quais dos candidatos que apareciam eu tinha o santinho.
Este vídeo elaborado pelo Senado demonstra como eram as campanhas eleitorais
Em 1982, já com 13 anos, minha ex-professora de 4ª série concorreu a vereadora pelo antigo PDS, e foi aí que fiz minha primeira campanha, época em que, através de meu pai, aprendi sobre a tradição política de minha família paterna, exercida por meu tio avô (irmão de minha avó) Walter Peracchi Barcelos. O “tio Walter” foi o candidato a governador da UDN adversário de Leonel Brizola nas eleições de 1958, e governou o Estado entre 1966 e 1971, durante o regime militar.
Nesta mesma época, meu pai, além da história da família, também me ensinou a fazer cola de água e polvilho, que usava para colocar cartazes nos postes. Difícil para as pessoas das gerações recentes saberem o quanto a cola de polvilho foi importante, pois, durante minha vida, em um incontável número de vezes passei noites inteiras colando cartazes em postes e tapumes, em campanhas políticas, sindicais e estudantis. Fiquei ‘craque’ na arte de fazer esse tipo de cola, habilidade que utilizei até bem pouco tempo nas eleições de 2010 quando ainda era permitido colar cartazes.
A partir daí a política nunca mais saiu da minha vida, para a militância estudantil e partidária foi tudo uma questão natural de tempo.
Ditadura Militar; Anistia; redemocratização; Diretas já; eleição e morte de Tancredo Neves; plano cruzado; constituinte de 1988; Eleição de Collor; Zélia Cardoso de Mello e o confisco da poupança; Fora Collor; Itamar Franco e o Plano Real; Fernando Henrique Cardoso; eleição de Lula primeiro operário presidente, primeiro presidente com que já havia tido contato; Dilma Roussef, primeira mulher presidenta, única presidente da república com quem tive relação pessoal, que convivi de verdade antes de chegar ao poder; impeachment/golpe da Dilma e por fim, a inacreditável, pelo menos para mim, eleição de Jair Bolsonaro, foram acontecimentos políticos que acompanhei com atenção.
A coleção de santinhos de 1978 despertou a paixão pela política, e nomes de políticos e suas trajetórias foram acompanhadas por mim como algumas pessoas acompanham a vida dos artistas. Números, resultados, regras, estatísticas políticas estão para mim como as do futebol estão para os amantes do esporte.
Muito antes de poder votar já tinha meus candidatos preferidos, acompanhava programa eleitoral, fazia campanha, e guardava as publicações de jornais com os resultados das eleições, fotos e pequenos históricos dos eleitos. Quando comecei minha atuação na militância estudantil, e com ela a frequência nas casas legislativas e órgãos do governo, já ‘conhecia’ quase todos os políticos e um pouco de suas trajetórias. Para a surpresa dos que me acompanhavam eu era capaz de apontar o político, dizer seu nome, e quem ele representava, categoria, região ou município.
Assim a política está ‘ativamente’ presente na maior parte da minha vida.
Na política local minha lembrança é um pouco anterior a 1978, e recordo de ter sido escolhido pela professora da escola primária, no colégio Piauí, para representar os alunos, e dizer algumas palavras, no ato de inauguração da pracinha da escola, ocasião em que se fez presente o Prefeito Guilherme Socias Villela. Ainda de 1982 chamou a atenção a eleição de Antônio Hohlfeldt, eleito vereador, o primeiro político eleito pelo recém criado Partido dos Trabalhadores no Rio Grande do Sul. Recordo das eleições ‘revolucionárias’ de Alceu Collares em 1985 e de Olívio Dutra em 1988, e assim, acompanhei atentamente todas as eleições que se seguiram até hoje.
Já presidente da UMESPA participei das eleições de 1989, as primeiras eleições presidenciais após o regime militar, e recordo da expressiva votação de Leonel Brizola no estado (Dentre os 20 candidatos a Presidente, ele obteve 62% dos votos válidos no RS algo realmente incrível).
No exercício da profissão de repórter fotográfico, também a política predominou, construí em minha trajetória a convivência com Leonel Brizola no topo das referências, (algo até irônico sendo eu parente de Perachi Barcelos) mas também acompanhei a participei da trajetória de outras importantes figuras políticas do Rio Grande do Sul e do Brasil, algo de que realmente me orgulho.
Toda essa caminhada me trouxe até aqui, a mais uma histórica eleição, em meio a uma pandemia, onde as redes sociais, que no passado recente já tiveram um papel importante, serão ainda mais fundamentais diante do isolamento social, o que torna todo o processo inédito e imprevisível.
Há algum tempo, durante o curso de História, me encontrei com as palavras de Milton Santos, e uma frase em especial se tornou símbolo de uma síntese para mim: “O mundo é o que se vê de onde se está”. Adotei essa frase, e passei a repeti-la e propaga-la.
Agora, em 2020, com o acumulo de 50 anos de vida, após quatro meses de confinamento, resolvi transformar esse blogue, que criei em 2013, em um espaço onde compartilho o mundo político que vejo.
Transferi as postagens antigas para o meu site pessoal, reformulei as páginas do Facebook e do Twitter e inicio aqui um novo começo para o site Glasnost, transformando-o em um espaço exclusivo de política.
Sempre gostei de fazer análise política, o que rendeu horas intermináveis de conversas nestes anos todos, porém, que sempre ficaram restritos a meu círculo de amizades mais próximas e aos espaços partidários, mas, este ano, com o objetivo de contribuir com o bom debate, resolvi compartilhar minhas reflexões, análises e comentários através deste blogue.
Não é uma cobertura jornalística e opinião isenta, e nem é esta a intenção, até porque, não creio ser capaz de produzir algo que não passe pelo ‘filtro’ de minhas próprias circunstâncias, limitadas pelo conhecimento que me falta, é potencializado por minhas crenças, vícios e ideologias.
Aqui quero compartilhar como vejo a política, os políticos, os partidos, e o processo eleitoral, ser um observador, comentarista, cronista, do processo eleitoral.
Te convido a embarcar comigo nesta caminhada e se você gostar, curta, comente, compartilhe e recomende para os amigos.
Serginho Neglia - Jornalista (Repórter Fotográfico), Licenciado em História, pai de Jenifer, Natália e Renata, e avô de Pedro, Gabriel e Maria Antônia.
*Publicação original do site Glasnost
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